Ultimamente tenho tido dificuldades em escrever posts aqui, porque tenho dificuldades em começar os posts.

Assim sendo vou directo ao assunto e vai da forma que calhar.

Já estou farto do ambiente" artsie fartsie" que se vive em Portugal e, julgo, que em grande parte da Europa. Somos todos artistas e somos todos flocos de neve especiais, porque pegamos numa guitarra e decidimos tocar e ter uma banda. Esperamos, automaticamente ter reconhecimento e zero críticas negativas. Temos de receber apoio incondicional e apelar ao respeito pelas diferenças.

Se bem que, o problema maior vem em consequência.

Este tipo de atitude, em que estamos constantemente a insistir no respeito pela diferença centra-se, muitas vezes, no facto de ao não sermos especiais querermos ter respeito na mesma.


Isto é, editamos algo, uma música, por exemplo, e, porque o fizemos e gostamos do que fizemos, toda a gente tem de gostar e ninguém pode dizer o contrário. Porque se disser, é um hater.
Mas se dissermos bem, está tudo ok. O mundo continua a girar, ainda que eu nem sequer tenha ouvido realmente a música, interessa é que a opinião seja positiva.

O problema aqui é a democratização da opinião positiva. Se adorares cegamente está tudo bem, mas se criticares com propósito és um hater, porque supostamente estás a ingerir-te na susceptibilidade artística do indivíduo que criou a música. E isso não é permitido. É não gostar por não gostar. E uma posição deste género rapidamente tornará a pessoa num rejeitado da sociedade sem espaço em qualquer fórum ou colectividade.

Este ambiente pós-modernista já está a ficar com barba e a cheirar mal. Um ambiente em que a única coisa que se pode defender com convicção é o respeito pela diferença. Só que se perde o respeito ao direito de lutar contra algo com veemência, porque isso não respeita a diferença.

Se alguém estiver a dizer algo com que eu não concorde eu não posso exaltar-me na defesa do meu ponto. tenho de ser democrático e dar tempo de antena ao ponto oposto. E depois esperar pela minha vez para falar. Não se pode ser apaixonado. Não se pode ser fervoroso sobre nada. Não, isso é demasiado agressivo e não devemos ser tão intensos. Porque no fundo, o que se defende hoje em dia é um ambiente sem verdades objectivas. Porque tudo é subjectivo e então eu não posso chegar e dizer que algo está errado. Não, tenho antes de dizer que respeito esse algo, mas que discordo educadamente. E isto é uma verdadeira palhaçada. Foi por acaso assim que se fez o 25 de Abril? (ou qualquer outra revolução ou mudança para o efeito, o que não quer dizer que eu ache que seja necessário, neste momento, uma grande revolução).

E assim vivemos, neste clima de paz podre em que ressentimentos surgem e crescem enquanto nós acreditamos que está tudo bem, porque ninguém nos contraria e ninguém nos esfrega a verdade na cara, porque, afinal, não há uma verdade. Há muitas verdades diferentes.

Esta questão da verdade objectiva ou subjectiva é muito importante. Porque é impossível unir quem quer que seja em prol de uma causa, se afinal todas as causas são subjectivas. Isso quer dizer que se eu quiser lutar contra o capitalismo, tenho de o fazer por minha conta e risco, porque para outras pessoas, subjectivamente, poderá estar tudo bem, apesar de incontáveis análises e algum bom senso dizerem o contrário.

Depois chegamos a este ponto em que o associativismo é apenas um passatempo. Organizamos concertos, e umas noites de piadolas e está tudo bem. De vez em quando podemos ouvir uns artistas a falar, sobre sabe-se lá o quê, e vamos para casa artisticamente enriquecidos, supostamente.

O associativismo deixou de servir um propósito maior. Um propósito em que se melhorava a vida das pessoas. Agora é uma cagança para meia dúzia de palhaços se poderem gabar de organizarem algo. E uma plataforma para uma clique reservada poder dizer que faz parte de algo, que no fundo, não é nada, porque nada traz à realidade das pessoas. Apenas as ideias do costume, respeitar as diferenças e ir votar se quisermos mudança, e irmos beber uns copos à sexta e sábado à noite enquanto o nosso braço dá uma volta ao mundo para dar uma palmadinha nas nossas próprias costas.

Este tipo de mentalidade só está a entorpecer a população e as suas mentes. Estamos cada vez  mais alienados a esta falsa ideia de liberdade e felicidade enquanto tudo à nossa volta está a mudar a uma velocidade incrível. E, no entanto, continuamos a preferir passar tempo a massajar os nossos próprios egos, fingindo que está tudo bem e não há nada a mudar.

Este é talvez um dos maiores perigos da sociedade actual e há que fazer algo para o contrariar!