Três meses depois volto a escrever aqui. Escrever aqui depende do trabalho e se houver muito trabalho escrevo menos. Portanto, whatever.

Durante este tempo cruzei-me com muitas coisas estúpidas dignas de referência. Ainda hoje, na garagem do meu prédio para um lado estava um tipo com camisa aberta até à barriga dentro de um carro atravessado no meio do caminho. Vou pelo outro lado, contorno a esquina e aí está um carro a bloquear a saída sem ninguém lá dentro, com vários lugares de estacionamento vagos. Eu sei que estavam a essa magnificente distância de cinco metros e talvez não tivessem gasolina, mas por favor, para a próxima vez, previnam-se.

Que mais aconteceu? Fui extremamente mal educado para uma pessoa na rua. Estava a segurar o casaco da minha querida namorada quando fui abordado por um indivíduo com um aspecto um bocado seboso que estendeu a mão para me cumprimentar. Traumatizado pelos meus anos de juventude em que recorrentemente nesse sítio era abordado por tipos a querer extorquir dinheiro e como agora já não sou jovem e até tenho uma fisionomia assinalável (não muitos músculos mas mais porte, ombros largos e pelos do peito a sair da camisola pelo pescoço*) recusei o cumprimento e disse relativamente alto e de forma bastante imperialista "Não fale para mim se faz favor!". A isto obtive a resposta "Ai é assim? É?". "É!" respondi. "Deus o abençoe" disse o tipo e eu disse "Obrigado".
Obviamente fui mal educado e o tipo afinal só estava a pedir para uma daquelas instituições que acolhem toxicodependentes. Mas a questão é que, primeiro, estava a segurar a bolsa da minha namorada para ela vestir o casaco e segundo aquele estender de mão para cumprimentar teve tudo de manhoso pelo que reagi daquela forma.
*Não tenho pelos do peito a sair pela camisola. Felizmente.

Mas enfim, eu vim aqui para criticar pessoas. Não para contar a minha vida.

Hoje quero criticar aquelas pessoas que dizem "Pessoas felizes são mais bonitas". Este tipo de frase falaciosa irrita-me para lá de Saturno. Porque primeiro implica um ideal de felicidade único. Isto é, estabelece um parâmetro. E depois põe um resultado em função desse parâmetro. Passo a explicar com um exemplo prático.

No outro dia vi uma foto que era um casal com a legenda "Pessoas felizes são mais bonitas!". O cenário era um casamento em que estavam os dois sorridentes a segurar um coraçãozinho (atenção que não eram os noivos, eram apenas uns convidados, provavelmente penetras, pelo nível de burrice) e a sorrir de forma protuberante. A beleza deles é indiferente.

Portanto o parâmetro estabelecido de estar num casamento a sorrir e a "curtir" cria o seguinte problema, é que agora, se eu os criticar, é porque não sou feliz. Eu não vou a casamentos, aliás, há duas coisas que agradeço que nem me convidem, casamentos e apadrinhar crianças.
A questão de que se não socializares não és feliz. A questão de que eu sou melhor que tu, porque tu não és feliz e não vais a casamentos e outras tretas que tal. E se não és feliz não és tão bonito. E este é um tema recorrente. Eu sou melhor que tu. Toda a gente pensa isto, mas pouca gente verbaliza este pensamento. Eu sou daqueles que verbaliza este pensamento sempre que acho que é verdade, mas também faço ressalvas sempre que acho que o que eu estou a dizer soa presunçoso. Porque não é do meu interesse ser superior a ninguém, mas ao mesmo tempo, factos são factos.
Contudo, a maior parte das pessoas não verbaliza e cinge-se a estes momentos em que passivamente afirmam a sua superioridade não afirmando completamente mas claramente dizendo, eu sou melhor que tu.

E já oiço ao longe os sons da discórdia "Mas só estavas a partilhar a nossa felicidade naquele momento!" ao que eu respondo, se estivessem só a partilhar diriam "Estamos felizes por estar não sei onde" e não "Estou feliz/sou mais bonito" como se houvesse real correlação.

A existência deste tipo de declarações é como os cadeados de amor. Cria um parâmetro de medição. Eu nunca deixaria um cadeado onde quer que fosse (excepto na minha bicicleta para não ma roubarem ahah). Agora a conversa seria "Pus um cadeado em Paris" ao que eu responderia "Parvoíce". Inacreditavelmente muita gente responde (e isto é verdade, já me aconteceu a mim) "Ah, é porque não amas verdadeiramente a tua namorada".
E agora eu pergunto, o que é que pôr cadeados feito idiota tem a ver com amar alguém? E os humanos estão satisfeitos consigo próprios sabendo que não conseguem um argumento melhor do que este para justificar algo? Francamente!
Mas bem, mais uma situação em que eu que ponho cadeados sou melhor que tu porque não amas suficientemente a tua companheira para o fazer. É risível.

Outro exemplo, e para acabar, conversa real.
"Quero ter um filho" ao que eu respondo "Não gosto de crianças e não quero ter filhos" (eu não gosto de crianças no sentido de não gostar de estar ao pé delas e não gostar de lidar com crianças, para mim, desde que não me incomodem são indiferentes e nunca faria mal a criança nenhuma). Resposta da outra pessoa "Fogo, tu não és humano". Enough said!

Resumindo esta atitude passiva em que aqui e ali as pessoas expressam algo em que não é óbvio mas no fundo a consequência passa por uma clara afirmação de superioridade é a meu ver uma desgraça para o ser humano. É o topo da arrogância. E porquê? Porque olha de cima para baixo para os outros sem sequer ter a contemplação de o estar a fazer. São afirmações levianas que passam outra imagem. Eu sei que pouca gente vai admitir isto, mas é verdade. Porque e aquelas pessoas que estão na solidão e olham para essa imagem, o que sentem? E o que sentem todas as outras pessoas. Claro que ninguém pede para que tenham cuidado com tudo o que afirmam na internet. Mas em vez de fazerem essas afirmações passivas digam de frente que estão felizes porque etc. e tal.

Vai uma grande diferença da pessoa que é segura de si própria ao ponto de o dizer abertamente até à pessoa que nunca o diz abertamente mas proclama constantemente essa superioridade.