Miguel Esteves Cardoso. O colosso entre os colossos. Aquele pelo qual, todos os dias, pessoas rastejam para ler a sua crónica (posso levar o Público de ontem para ler a crónica do MEC? Claro, é um favor que me fazes). Após o primeiro post que é sobre a, por assim dizer, incompetência deste colosso para escrever crónicas, dedico-me agora a um ponto em concreto cuja opinião de MEC é me particularmente repulsiva.

(Leiam os originais nos endereços que aqui deixo, porque isto é tão mau que nem sequer quero conspurcar o meu blog.)
http://www.publico.pt/mundo/noticia/escolher-israel-1666913
Vamos começar pelo fim, pode ser? "O resto é cobardia, aldrabice, desprezo e estupidez." (liberdade de linguagem reconhecida)

Vamos agora enquadrar. MEC escreve isto na fase em que Israel estava a executar a Operação Protective Edge (OPE).
MEC começa por dizer que Israel é condenado por se defender dos ataques dos foguetes do Hamas. Mas vamos recapitular a história.
Ao fim de dois anos de tréguas, cumpridas na plenitude por parte do Hamas, o Hamas decide aderir a um governo de unidade com a Fatah concordando com todos os pontos requeridos pela Autoridade Palestiniana para a resolução do conflito, significando isto que aceitam o Two State Solution dentro das linhas da resolução 242 das Nações Unidas.
Três jovens israelitas desaparecem e são mortos por militantes dissidentes do Hamas (embora a confirmação da teoria só viesse bem mais tarde) e Israel decidiu culpar de imediato o Hamas e começou as suas próprias investigações. (Embora muitos apontem este como o momento que despoleta o início do conflito, alguns, incluindo o notório historiador do Médio Oriente Ilan Pappé, defendem que o início foi um mês antes quando dois palestinianos foram mortos pela policia israelita)
As "investigações" consistiram na detenção de centenas de pessoas e em bombardeamentos na Faixa de Gaza.
Resultado final.
Civis palestinianos mortos - +/- 1500
Combatentes palestinianos mortos - +/-600
Infraestruturas civis palestinianas destruídas (em dólares) -  4 000 000 000 $
Casa palestinianas destruídas - 18 000
--
Civis israelitas mortos - 5
Combatentes israelitas mortos - 66
Infraestruturas civis israelitas destruídas (em dólares) -  55 000 $
Casa israelitas destruídas - 1

Mas bem, quem é que desatou a prender pessoas a e bombardear sem deixar a justiça funcionar normalmente?

MEC depois diz umas tretas sobre os israelitas de um lado e os palestinianos do outro e que por cada amigo Israel há mil amigos da Palestina.

E depois diz "Nas guerras pelos underdogs, basta fazer contas para perceber que, de todos os pontos de vista numéricos, geográficos e políticos, é Israel que é o underdog."
Pena que não refira que do ponto de vista militar Israel é um dos mais poderoso exércitos do mundo e dispõe de armas nucleares (as únicas não incluídas nos acordos de não proliferação das potências nucleares), e do ponto de vista político tem do seu lado uma superpotência mundial com poder de veto no Conselho de Segurança da ONU (são só os EUA, que vantagem política é essa?)

"Por cada cem israelitas que querem um estado da Palestina quantos palestinianos querem Israel ao lado da Palestina? Um. Só os mais inteligentes e humanistas. Felizmente ainda são bastantes. Mas não são do Hamas.". Isto é uma idiotice.
Quando o Hamas aderiu ao governo de unidade com a Fatah concordou com as formas de procurar paz da Autoridade Palestiniana que passa pela existência de dois estados. Palestina e Israel. Portanto, MEC só pode ser burro ao afirmar isto.
E adicionamos que por cada civil israelita que morreu, morreram 300 palestinianos. Mas essas contas não interessam a MEC, porque ele não tem qualquer interesse pela vida humana e pelo drama que se vive numa zona superhabitada e debaixo de um bloqueio que até chocolates impediu de passar para Gaza a certo ponto.


http://diariodoanthrax.blogspot.pt/2006/08/ns-tambm-somos-israel-por-miguel.html

No artigo citado no endereço que deixo acima, MEC é por Israel, aja bem ou aja mal. E nem se preocupa em defender a posição dele porque basta-lhe ler e usar os mesmo argumentos que existem na imprensa israelita.
Depois:
"Os israelitas têm, em comparação com aqueles com que guerreiam, algumas grandes vantagens. Não querem a destruição completa do povo a que pertence o exército adversário."

Israel em 1948 e 1967 fez o que muitos historiadores israelitas chamam de limpeza étnica. E desde então (1967) desrespeita como quer as convenções de Genebra e a resolução 242 que defende uma solução de dois estados na fronteira de Junho 1967, com a mudança de estatuto da cidade de Jerusalém, dividindo-a em dois, e uma justa resolução do problema dos refugiados (palestinianos). Desde então o que vemos? Construção de colonatos em território palestiniano ocupado. Recorrentes "operações" que resultam em milhares de mortes do lado dos palestinianos. Resumindo, uma clara intenção em não resolver o conflito da parte de Israel, apoiado pelo grande aliado EUA.
Se os israelitas não querem a destruição de um povo, para quê esta frase?

"If I'm elected, there will be no Palestinian state".

Houve quem dissesse que ele só disse isso para agradar aos votantes, mas então que raio de intenção é que os votantes têm? É que Netanyahu ganhou inequivocamente as eleições. Posso então assumir que grande parte dos israelitas não quer que exista um estado palestiniano.


"Gostam da liberdade de expressão; da democracia liberal; dos direitos humanos."

Quando a Amnistia Internacional e a Human Rights Watch, repetidamente condenaram ao longo dos anos Israel pelas suas violações dos direitos humanos, eis que vem MEC e diz que Israel gosta dos direitos humanos. Podem ler aqui 22 days of death and destruction.
Liberdade de expressão - De acordo com o site Reporters Without Borders, Israel fica em 96º no ranking de liberdade de expressão, atrás de países como o Quénia, Zâmbia, Libéria, Mongólia etc. Gostam muito da liberdade de expressão. Definitivamente há piores, mas para o país avançadíssimo que MEC retrata, esperar-se-ia melhor.

"Pensam no que fazem; têm problemas de consciência; dúvidas que exprimem publicamente e debatem sem pudor."

Como é que MEC espera que um país destruído pela guerra, sem economia, sem ensino, como a Palestina, que está em suspenso desde 1967, possa ter qualquer ambiente construtivo de debate público? Por acaso a culpa disso é dos palestinianos?

"Votam e deixam votar."

Hora para lembrar esta frase excelente de Benjamin Netanyahu "“The right-wing government is in danger. Arab voters are heading to the polling stations in droves, Left-wing NGOs are bringing them in buses.”" Porque, decerto, os árabes não têm direito e nós temos que evitar que qualquer influência que eles tenham seja anulada.

"Enfim, Israel é como Portugal, como a Europa, como os Estados Unidos, como o Japão, como a Austrália e todos os países onde o indivíduo é livre de discordar, rebelar-se e ser do contra. Ou, no meu caso, de não se rebelar - nem sequer contra os que se rebelam."

E aqui MEC atira pela janela aquele que é o único argumento válido para Israel fazer guerra. Afinal, Israel é como Portugal. Então o que têm a temer? Grande parte da opinião de Israel manter o conflito tem a ver com o facto de estar só entre países árabes e o receio de ser atacado. Mas pelos vistos é tudo igual.
Excepto que eu nunca vi o Sócrates ou o Passos Coelho a dizer "As pessoas do Alentejo estão a votar, os comunas foram buscá-los de autocarro!"
MEC é engraçado, porque para além da pretensa intelectualidade está latente esta convicção em deixar tudo como está. Talvez porque a MEC  lhe falte o arcaboiço para discutir objectivamente algo, não sei, mas é muito estranho.

"Faz lembrar Portugal há muitos séculos atrás, quando a ideia de Portugal ainda não era aceite. Os israelitas têm os americanos como nós tínhamos os ingleses. E os restantes europeus, como sempre, vacilam em volta, confundindo a própria confusão."

MEC está confuso. Em 1386 já Portugal era Portugal há 200 anos. MEC confunde a pretensão de conquista por parte dos castelhanos, com a falta de aceitação de que Portugal existe.
Os americanos também eram aliados do apartheid (Mandela era considerado um terrorista até 2008!!!) até deixarem de apoiar. Eram apoiantes da Indonésia, até deixarem de ser. E o que aconteceu quando deixaram de apoiar? O apartheid acabou e a Indonésia deixou Timor Leste em paz. MEC fala de duas alianças. Uma medieval entre dois países cuja preocupação era França e Espanha, e a outra entre uma superpotência, que domina o mundo, com Israel. Quando Israel deixar de ser útil aos EUA o que acontecerá?
Ah e os outros países vacilam. Isto é mais uma parvoíce. Só o que MEC diz que está bem é que está bem. Os outros não têm direito à liberdade de expressão e decisão. Se têm opinião ou uma visão diferente dos assuntos "vacilam".

"Não é em Israel nem aqui que existe unanimidade ou se procura alcançá-la. Essa é a razão do meu apoio: poder concordar. Também é uma liberdade. É onde há unanimidade - e onde se procura impô-la - que está o que se deve temer e contrariar. "

Mais uma vez, MEC troca-se todo. Entre a Fatah e o Hamas não há unanimidade (nota que o artigo é de 2006, altura em que não existia qualquer governo de unidade). Portanto mais um desvario incrivelmente idiota do intelectualóide português.
Já agora, no blog onde está a transcrição deste texto há três comentários todos em concordância. Espero que o MEC vá lá contrariar.

http://www.publico.pt/mundo/noticia/viva-tuvia-tenenbom-1706134
"Não conseguiu entrar nem no Hamas nem no Hezbollah mas foi muito bem recebido por outros dirigentes palestinianos que elogia e defende, apesar de confirmar o que já se sabia: que não são anti-semitas nem anti-judeus mas, por não aceitarem o estado de Israel, acabam por ser."

Reparem bem. Eu já disse antes, que a resolução que a Autoridade Palestiniana procura baseia-se numa solução de dois estados. Palestina e Israel. É incrível como apesar de procurar essa solução, os palestinianos, mesmo assim, querem a destruição de Israel. Quando Israel tem o poderio militar que tem, o que tem Israel a temer da Palestina?
Não conseguiu entrar no Hezbollah. O Hezbollah desde 2006 que nem representa perigo para Israel, quando Israel invadiu o Líbano com o propósito de destruir o Hezbollah. Hezbollah é libanês e não palestiniano, mas a burrice de MEC tolda-o de ver o óbvio. (note-se que MEC refere-se a um livro escrito por alguém que foi a Israel)

"Nem os palestinianos nem os israelitas são sempre as vítimas. A União Europeia e, dentro dela, a Alemanha intrometem-se muito mais do que deveriam."
O MEC tem de ir aprender a escrever. Se os palestinianos e os israelitas não são sempre as vítimas, quem são elas então? A UE e a Alemanha intrometem-se?! Espectacular.

Conclusão
MEC, não tem qualquer pudor pela vida humana. Para ele as coisas são a preto e branco e não consegue aceitar as nuances e os factos que destroem qualquer teoria que ele tenta erigir. Chega ao ponto ridículo de dizer que aja bem ou mal eu apoio na mesma. É uma lógica tão idiota e absurda que me pergunto, mais uma vez, o que é que MEC tem de extraordinário.
Eu compreendo que hajam pessoas a apoiar Israel, porque o lado palestiniano está longe de ser perfeito, mas não compreendo a insensibilidade e a maldade com que MEC dispara acusações sem se dar ao trabalho de justificar. É assim porque é assim. Que se lixem as crianças que estavam a jogar à bola na praia e foram bombardeadas na praia. Que se lixem as pessoas que tinham uma casa e ficaram sem ela e agora andam a endireitar ferro dos escombros para, quem sabe, reconstruir qualquer coisa da sua casa. "O resto é cobardia, aldrabice, desprezo e estupidez." A cobardia de MEC em nunca assumir uma posição sólida baseada em factos é incrível e isso é também uma aldrabice. O desprezo de MEC pela vida humana é outra coisa incrível e para qual não há palavras. A estupidez é patente em toda e qualquer palavra que se leia de MEC.
Ainda gostava de um dia compreender este tipo de pessoas, mas, francamente, ultrapassa-me o nível de maldade e indiferença para com o próximo. E impressiona-me a ignorância com que Miguel Esteves Cardoso o faz.