Gaza - Cópia de mail enviado à SIC

A SIC transmitiu um dia destes uma reportagem acerca de Gaza. Enquanto é verdade que muitos se poderão sentir comovidos pela reportagem a mesma falho em alguns pontos que considero importantes. Assim sendo, enviei um email à SIC que segue abaixo e fica aqui registado.

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Exmos. Srs.

Na sequência da vossa Grande Reportagem acerca da faixa de Gaza, venho com a presente expor alguns pontos que me parecem relevantes na reportagem.

1º Ponto - Na sequência das mortes das crianças palestinianas na praia vítimas de um ataque da IDF (Israel Defense Forces) é dito que Israel estava a investigar o incidente. E quais os resultados? Estamos em Março de 2015 e isso aconteceu em Julho de 2014. Oito meses.

2º Ponto - É dito que o Hamas controla a Faixa de Gaza. Verdade. É dito que o Hamas expulsou a Fatah da Faixa de Gaza. Também verdade mas isso foi em 2007. 

3º Ponto - Aquando da invasão de Gaza tinha sido estabelecido um acordo de unidade nacional entre o Hamas e a Fatah (1). Este governo de unidade nacional foi considerado legítimo para negociações pela União Europeia e pelos EUA (2). Facto acerca do qual muita insatisfação se manifestou por parte de Israel (3).

4º Ponto - Posto isto, como pode a vossa reportagem saltar de 2007 (altura em que nenhum país aceitaria negociar com o Hamas) para o conflito de 2014 sem explicar que nesse momento as circunstâncias já eram de unidade em vez de divisão? E não ter em conta o desconforto que isso causou dentro de Israel.

5º Ponto - Militantes do Hamas mataram os três jovens israelitas que despoletaram a última guerra. 
Enquanto isso pode ser verdade de certa forma o que ficou concluído é que alguns operacionais do Hamas tenham colaborado. Contudo, não ficou provado que os líderes do Hamas tivessem conhecimento ou participação no planeamento do sequestro e consequente homicídio (4) (Tal como admitido pelo líder exilado do Hamas (5)). Pode parecer irrelevante mas tendo em conta as consequências devastadoras do ataque israelita que ocorreu de seguida seria uma ressalva obrigatória. Será que é justificável matar dois mil palestinianos porque uns radicais mataram três israelitas? Certamente é condenável mas nada que não se pudesse investiga e resolver através de tribunais normais. Talvez pudéssemos fazer a comparação entre acção reacção das mortes das crianças palestinianas na praia (oito meses e a contar) e a reacção às mortes dos jovens israrelitas.

6º Ponto - Iron Dome. Intercepta mais de 90% dos ataques? Qualquer jornalista sério iria verificar esta efectividade. O físico Theodore Postol de Boston declarou o seguinte:

THEODORE POSTOL: Well, we know—we have videos of the contrails—by contrails, I mean the smoke trails left by the Iron Dome rocket motor—that indicate the geometry of the engagement between the Iron Dome interceptors and the incoming artillery rockets. So, for example, if you see a contrail that ends with an explosion of an Iron Dome, and the contrail is traveling parallel to the earth, this means that the Iron Dome attempted to engage an artillery rocket from what you call a side-on geometry, because the artillery rocket is falling in a highly vertical trajectory. In a side-on geometry, the probability of destroying the artillery rocket warhead is essentially zero, for all practical purposes. We also see Iron Domes chasing artillery rockets from behind. The probability of destroying an artillery rocket warhead in that geometry is also zero. We occasionally, very occasionally, see an Iron Dome intercept arising in a near-vertical trajectory. That is the only engagement geometry where the Iron Dome has a non-zero chance of destroying the rocket—the artillery rocket warhead." (6)

Acho que era interessante fazer um contraponto. É muito bonito dizer que a Iron Dome é que defende, quando muito provavelmente os ataques não são assim tão brutais como querem fazer parecer e o que funciona realmente são os abrigos anti bomba.

7º Ponto - Ainda bem que falara sobre o Breaking Silence. Um resumo geral de violações dos direitos humanos nas últimas décadas também seria interessante para mostrar como Israel aterroriza os palestinianos. (7)


Dados os pontos acima referidos, tenho pena que a SIC não tenha sido mais assertiva em referir a brutalidade da invasão israelita. A protecção diplomática que é dada a Israel nas Nações Unidas bloqueando quase todos os anos as resoluções com vista à resolução do conflito. Como os palestinianos estão bloqueados mas não há um embargo às armas israelitas, que devemos lembrar que é um estado agressor.

Eu compreendo as restrições de tempo, mas 35 minutos do nosso tempo não são nada em relação aos quase 50 anos que dura a ocupação israelita e esses 35 minutos deveriam ter sido aproveitados para sublinhar com provas sólidas a brutalidade israelita na Palestina, para que todos vissem e todos ficassem cientes de como este conflito está errado e deveria acabar (já deveria ter acabado) o mais depressa possível.

Com os melhores cumprimentos,

João

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7 - Para um resumo de algumas das violações e crimes de guerra ver Beyond Chutzpah de Norman Finkelstein de 2005.
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A RESPOSTA
Caro Senhor João,

Recebemos a sua mensagem, que mereceu a nossa melhor atenção.

Agradecemos o seu interesse pela nossa estação televisiva e a disponibilidade demonstrada para nos transmitir a sua opinião. Só com a opinião dos nossos telespectadores podemos continuar a melhorar e a ir ao encontro das suas necessidades e interesses. Informamos que a sua insatisfação foi encaminhada para as áreas responsáveis, que tomaram nota da mesma.

Sem outro assunto de momento, agradecendo o seu contacto, e colocando-nos à sua inteira disposição para futuros contactos, apresentamos os nossos melhores cumprimentos, em nome de toda a equipa da SIC.


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Comentário Final

Ao contrário do que a resposta da SIC possa inferir, eu não em sinto insatisfeito. Para me sentir insatisfeito era necessário que em primeiro lugar eu tivesse qualquer tipo de expectativa, que não tinha. 
A esta carta não obtive qualquer resposta. Obviamente, ninguém é obrigado a responder e as pessoas têm mais do que fazer, mas juro que gostava de perceber quais as razões para algumas escolhas na reportagem.

Open Letter to Salman Rushdie

Dear Salman Rushdie,

Hope this finds you well.

It's now March. Spring has arrived and cheerful thoughts inhabit people's minds. At least, that is what they say.

I am writing to you about the Charlie Hebdo attacks. I know it's been two months, but, at the time of such traumatic events, emotions ran wild for many people and to make sense of reality seems a bit more difficult.

Being so, I write to you about your statement as posted on English PEN.

I like to say that I am more atheist than many atheists and more religious than most religious people. By that I mean that I follow a certain religion but I am not bothered by whatever one might say about it. I don't take it that seriously and it shouldn't be taken seriously, as far as I'm concerned.

Anyway, getting to the subject at hand, regarding your statement I hold no quarrel with any of your views about religion being a medieval form of unreason and the reigning of totalitarianism on some factions of Islam. I have no quarrel with that.

My main problem with your statement is what bothered me on everyone else that saw this attack as an attack on freedom of expression.

Why?

To see those attacks as being on freedom of expression is to thwart our reality as a world. Freedom of expression is a concept that seems very hard to grasp to anyone on earth. We always defend freedom of expression until we don't like it and then we repress it. Happens every day to every good or bad people, to every law abider or law transgressor, to every mother or father. And is it wrong? If I made a statement I would be offending the freedom of expression of every good or bad people, every law abider or law transgressor and every mother or father. To take a stand is to immediately put a leash on others freedom of expression. Ultimately, as the late Bill Hicks once said, "Freedom is free". The consequences might be there for external reasons but nothing, and I mean absolutely nothing, can stop me from saying whatever it may please me. At least once, obviously.


To see these attacks as being attacks on freedom of expression is to obviously misunderstand its results. Freedom of speech, as seen by the demonstrations everywhere a little bit around the world,  increased. At least, supposedly. Everyone had their say about it. Everyone screamed, or shall I say, tore their torax so their lungs could jump out to express something beyond a scream to say Je suis Charlie. Anyway, there was an increase on Islam critic cartoons right from the offset and not many of those cartoonists were attacked.

To classify these attacks as being on freedom of expression is to completely fail in acknowledging them as terrorist attacks motivated by political reasons. That failed acknowledgment leads to an even greater failure. The failure to comprehend the reaons behind such attacks.

It is true, and I agree without reservations, that no reason justify those deaths. But they are reasons still. Those attacks were not caused by neurotic thoughts. They were carried out by sane persons who, for whichever reason saw that gesture as meritable.

Only understanding those reasons can we get to the root of the problem. And then trying to solve it insofar as it is something we can do, and oh boy, how much can we do.

I don't stand with Charlie Hebdo, because, to me, those deaths are as tragic as the deaths of the two thousand Palestinians on the last summer, as the thousands of deaths on Iraq and Afghanistan, thousands of deaths in Lybia and Syria etc. They are all tragic. Why shouldn't we say I stand with Palestine? Is it because it is an old subject? Why don't we stand with Syria and Lybia? Truth might be that there are dictatorships there, but is it the western fueled chaos a better way to do it? By ruining the lives of a bunch of ordinary and innocent people? Why don't we care about that?

Why are you not worried about all those other casualties?

I won't speculate about your reasons. But looking at my fellow Portuguese countrymen Charlie Hebdo only shocked because it was close to us. Because for fifteen minutes our superior world was threatened. And because of that everyone rose from their pathetic seats and came out of their pathetic lives which themselves fail to understand to say Je Suis Charlie. Millions in Paris and millions worldwide. There they were giving airplay to many different world leaders fighting, like the children that wants to be picked for the football match, to go to the first row so they could be photographed and seen. Isn't Netanyahu a terrorist too, when his country indiscriminately kills Palestinians?

If we were to worry merely with freedom of expression shouldn't we worry that to poke fun at Islamics is okay but on the other hand to poke fun at jews is anti-semitic? Wasn't the Charlie Hebdo that once sacked a cartoonist over a cartoon? Tell me Mr. Rushdie are we really to worry about freedom of expression? Is this serious?

Those attacks will, now, forever be linked with freedom of expression and how a couple of savages attacked our western establishment and way of life. They will never be seen as attacks that followed something else and that is sad. As Joe Sacco brilliantly put it on a cartoon and with that I finish my letter.

"... perhaps when we tire of holding up our middle finger we can try to think about why the world is the way it is...
And what it is about muslims in this time and place that makes them unable to laugh off a mere image.
And if we answer "because something is deeply wrong with them" - certainly something was deeply wrong with the killers - then let us drive them from their homes and into the sea... for that is going to be far easier than sorting out how we fit in each others world."

Best wishes and have a nice day.

Rage



Este tipo de comportamento exibido por esta jurada do vídeo é o tipo de comportamento que mais raiva me provoca seja onde for e parece que é daqueles mais comuns.

Esta jurada acusa uma pessoa de falta de originalidade, esquecendo-se que ela própria é um poço de falta de originalidade. E que o seu marido, que supostamente teve a sua identidade roubada pelo concorrente, é ainda mais um caso de originalidade espectacular. No sentido de ser igual a centenas de outros.

Incrivelmente este é dos tipos de comportamento mais frequentes e que mais me tocam nos nervos e me deixam a pensar porque é que o ser humano, apesar de ser racional, é o ser mais estúpido à face da terra.

O que não falta é gente a vangloriar-se de ser melhor que não sei quem e não sei quem mais. Porque eu sou pela liberdade. Je suis fucking Charlie. Eu defenderei a tua liberdade com uma convicção Voltairiana. Até que o teu ponto não me agrade e nessa altura tentarei calar-te por todos os meios possíveis. Utilizarei falácias, subversões, farei perguntas que pouco têm a ver com assunto em discussão e guiarei a conversa noutro sentido. Farei uso da minha autoridade e da tua fragilidade para que te obrigar a submeter aos meus desejos mesquinhos e idiotas.

Este é o retrato da humanidade.

A sociedade ocidental, e a portuguesa em particular que é a que me é mais próxima, é uma palhaçada diária. Desde políticos, da esquerda até à direita, a jornalistas que extrapolam informação sem verificar absolutamente nada, comentadores que falam como se o que eles dizem fosse o santo graal da informação a última gota de sabedoria. Professores completamente cegados por uma ideologia bairrista e tacanha. Com visões deformadas e deturpadas da realidade. Professores de história que dizem que o Código Da Vinci é um livro relevante em termos de teoria histórica, apesar de ser um romance e apesar de ser o maior monte de merda que existe em termos literários. Juntamente com o Crepúsculo. Juntamente com as 50 merdas de Grey. Mas nós, o povinho, adoramos estas coisas. Descrevem tão bem os nossos desejos mais escondidos. Reflectem tão bem as emoções do ser humano. Idiotice.

A juventude de hoje a quem tudo é dado de mão beijada. Queres estudar? Estuda. Vai para uma universidade e faz as três escolhas. Escolhe um que tenha uma média baixinha para teres a certeza que entras e depois escolhe mais dois á sorte, sempre de olho na média, para teres escolha. Deixa de lado a necessidade de conhecimento. Quem é que precisa disso? Só aqueles que tem a mania que são superiores é que precisam disso para se exibirem. Eu? Quero é a vida louca. Quero curtir e ir para uma praia morrer numa onda. Quero ir para cima de uma parede e saltar até ela cair e depois ficar soterrado. Quero ser um coitadinho. Quero ser um idiota que vive dos despojos da sociedade e dos rendimentos dos meus pais. Não tenho dinheiro para livros para o meu curso professora. Gastei tudo nos jantares deste mês e no meu estúpido traje. Não é lindo? Já comprei a colher e o chapéu para todos assinarem para me lembrar para sempre deste dia fantástico em que me licenciei num curso acerca do qual pouco sei e pouco me interessa. Mas sou licenciado e tenho direito a queixar-me de não ter emprego. Porque sou uma merda naquilo que aprendi, supostamente, e agora ninguém me dá emprego. Desculpa pai, gastaste três mil euros para nada. Gasta mais uns milhares para me manteres aqui em casa enquanto eu sirvo a inutilidade com aplicação.

E quando encontrar um trabalho, graças a uma cunha de um amigo de não sei das quantas, irei aplicar-me imenso. Na primeira semana esgotarei o profissionalismo e daí para a frente preocupar-me-ei mais com fofocas e irrelevâncias. E preocupar-me-ei mais com fazer amizades e aplicar-me em socializar. Será muito fixe e divertido. Tal como na primária. Tal como no ciclo e na secundária. Tal como na universidade. Serei amigo de toda a gente que tem um facebook. Os que não têm e eu nunca lhes ligo, o problema é deles. Eles é que se querem afastar. Têm a mania. Não são como eu.

Um dia encontrarei uma companheira e iremos viver para uma casa. O meu pai trata disso tudo. Ele dá-me ou ajuda-me com a renda. Não há problema. Podemos ir para uma outra casa. Melhor e mais cara. Assim também posso comprar um carro novo. Sempre quis ter um. Talvez até consiga comer uma outra gaja sem tu veres. Se tu não vires não faz mal. Casamos há seis meses mas isso não quer dizer nada. Temos de variar para manter a chama acesa. A barreira dos seis meses é a mais difícil. Vou ter com os meus amigos. Fica aí sozinha. Limpa a casa e trata da minha roupa. Perde oito horas do teu descanso semanal para que eu possa ir ter com os meus amigos e beber cervejas e perder-me em bares. Até logo. Qualquer coisa liga à tua mamã. Ela vem-te ajudar. Logo à noite venho e faço-te um filho. Cuidaremos dele com todo o zelo enquanto ele estiver na tua barriga. Derreteremos o máximo de dinheiro possível para que ele tenha todas as condições. Porque o meu filho é a coisa mais importante deste mundo. Ele terá tudo de bom. Nada lhe irá faltar. Amor, a criança nasceu. Que momento lindo. Não há nada como esta sensação. Ser pai. Chama a tua mamã. A tua mamã que a leve para casa dela e que cuide lá dela. Ela sabe cuidar da criança melhor que nós e nós não temos tempo. Afinal, tu nem sequer tratas da minha roupa. Levas para a tua mãe. Fazes bem amor. A vida são dois dias. Vamos passar um fim de semana fora. Vamos comprar o maior saldo que encontrarmos na internet e vamos para lá exigir um tratamento de cinco estrelas. Porque eu sou especial. Você sabe quem é que eu sou? Bem me parecia.

Paz e liberdade. Detesto pessoas desonestas e mentirosas. Eu defendo a liberdade e a paz. Que todo o mundo viva em paz. O que é que nós fizemos para merecer tantas guerras e atentados. O que é que está de errado com essas pessoas. Esses subalternos que não sabem o seu lugar no mundo. Esses seres estranhos que têm inveja da nossa forma de viver. Têm inveja da minha liberdade e da minha paz. Da minha liberdade de ser como querem que eu seja. De ser um carneiro num rebanho. Ainda hoje vinha nas notícias a dizer que nós temos razão amor. Vamos manifestar-nos. Pela liberdade e pela paz. Pela igualdade e pela fraternidade.

Que sociedade podre. Que sociedade podre. É este o tipo de idiotice que abunda. Um bando de idiotas. Que é que vocês sabem? Citar generalidades? Viver numa bolha e acreditar em tudo aquilo que contribui para a bolha de felicidade. E quando alguém te der um ponto de vista diferente? Subverterás e encontrarás todas as desculpas necessárias para continuares a acreditar na tua rica vida. É isto que vocês chamam de vida? Uma vida de obscuridade? De regularidade excruciante disfarçada de excitação fantástica em férias e viagens sem as quais não podes passar? Mas espera. É claro. Eu é que tenho inveja. Claro. Onde estava eu com a cabeça? Que mais poderia ser? Tal e qual. I-N-V-E-J-A. Eu queria ser como tu. Choro de cada vez que estou em casa e te imagino na festa com os teus incipientes e aparvalhados amigos. Estou de mal com a vida. Sou carrancudo. Só quero ver as coisas más e pulo de alegria com a infelicidade dos outros. É claro.

Como poderia eu esperar que me compreendesses? Fraco humano de cérebro subdesenvolvido. O erro é meu. Como poderia eu esperar que o animal mais egoísta do planeta me entendesse? Esta é a derradeira parvoíce.

Calar-me-ei, então.

Chef Mike

http://www.latimes.com/opinion/op-ed/la-oe-0315-douglas-anti-semitism-20150315-story.html

O filho de Michael Douglas, aparentemente, foi vítima de um ataque anti-semítico.

Pontos prévios:
-Não tenho nada contra judeus,
-Anti-semitismo existe.

Postos estes dois pontos prévios para que não hajam dúvidas de onde eu me detenho nestas duas questões essenciais, passo a comentar sobre esta coluna de opinião no LA Times escrita pelo Michael Douglas (daqui para frente MD para facilidade de digitação).

A coluna fala de como um homem abusou verbalmente o filho do actor. O actor diz que apercebeu-se de que teria sido o facto do jovem estar a usar uma estrela de David que teria despoletado a reacção do homem. Michael Douglas não diz o que é que o homem disse à criança nem esclarece o que falou com esse mesmo homem quando o confrontou.

Mais adiante MD faz a seguinte declaração.

While some Jews believe that not having a Jewish mother makes me not Jewish, I have learned the hard way that those who hate do not make such fine distinctions.

Basicamente MD diz que é judeu, apesar de alguns judeus dizerem que se a mãe não é judia não se é judeu, mas fica ofendido porque alguém achou que ele era judeu, apesar de ele admitir que é judeu. Ok.

Depois fala sobre as concepções pré estabelecidas acerca de judeus. Nomeadamente:

“Michael, all Jews cheat in business.”

E continua:
With little knowledge of what it meant to be a Jew, I found myself passionately defending the Jewish people. Now, half a century later, I have to defend my son. Anti-Semitism, I've seen, is like a disease that goes dormant, flaring up with the next political trigger.

Em toda a honestidade, a grande pré-concepção que existe acerca de judeus tem precisamente a ver com dinheiro. Que são gananciosos e que são habilidosos nos negócios. 
Posto isto MD considera que este episódio retrata a ódio/discriminação que os judeus sofrem. 

Parafraseando Norman Finkelstein (Doutor em Ciências Políticas e proeminente investigador na área do conflito Israelo-Palestiniano) este preconceito não ultrapassa em nada o preconceito que uma pessoa gorda sofre, que uma pessoa feia sofre, que um preto sofre, ou que qualquer minoria sofre. A meu ver acho até que é insensível que este seja sempre o preconceito essencial contra judeus quando muitas outras pessoas sofrem são vítimas de preconceitos muito mais macabros e impeditivos do que os judeus.

Mais à frente fala das razões para a inflamação do anti-semitismo. Não vou falar sobre a primeira razão que ele dá, por isso salto directamente para a segunda.

A second root cause of anti-Semitism derives from an irrational and misplaced hatred of Israel. Far too many people see Israel as an apartheid state and blame the people of an entire religion for what, in truth, are internal national-policy decisions. Does anyone really believe that the innocent victims in that kosher shop in Paris and at that bar mitzvah in Denmark had anything to do with Israeli-Palestinian policies or the building of settlements 2,000 miles away?

MD queixa-se que as pessoas culpam toda a religião pelo que acontece em Israel. O problema é que é Israel que se declara repetidamente como sendo The Jewish State. O primeiro ministro Israelita Benjamin Netanyahu afirmou, repetidamente, que todos os judeus são bem-vindos em Israel. É a casa deles. Mais ainda, Israel comete atrocidades regularmente. Onde estão os judeus estrangeiros para se insurgirem contra essas atrocidades? São uma pequeníssima fracção os que o fazem. Se vamos olhar para a injustiça (que é, sem dúvida alguma, o ataque indiscriminado de cidadãos com pretextos discriminatórios) vamos olhar para todas as injustiças e não, simplesmente, resumir essas injustiças a uma questão de "Internal national-policy decisions".

Mais à frente fala de demografia da comunidade árabe e como vão haver sempre radicais. Isto é verdade, mas é verdade que os radicais são, muitas vezes, radicalizados por aqueles que são agora as vítimas. A questão da Palestina é um ponto evidente disso. Podia estar resolvida desde 1967 com a Resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas 242 se a mesma tivesse sido completamente implementada. Mas o que assistimos hoje é uma barbaridade. O estado em que se encontra a Faixa de Gaza após o último ataque é miserável. Os palestinianos vivem sob imensas restrições e sem grande futuro pela frente. É óbvio que esta injustiça de tratamento incita à radicalização. E enquanto isto não justifica ataques terroristas (nada justifica) é sem dúvida uma das causas na raiz do ódio extremista contra os judeus que existe e, nomeadamente, contra Israel.

It's also the responsibility of regular citizens to take action. In Oslo, members of the Muslim community joined their fellow Norwegians to form a ring of peace at a local synagogue. Such actions give me hope — they send a message that together, we can stand up to hatred of the Jewish people.

MD fala bem. Formar um anel de paz. Mas esse anel de paz só engloba o ódio contra os judeus? E o tumulto causado pelo ocidente (nomeadamente EUA e mais alguns países europeus) no Afeganistão, No Iraque, na Síria, na Líbia? Essas pessoas não merecem paz? E o povo da Palestina? Não merece paz. Por estes lugares não é necessário "gritar" por paz e por acções no sentido de implementar essa mesma paz?
No meio disto tudo o filho do MD é mais importante do que isso. Sem dúvida, para um pai, não há-de existir nada mais importante que o filho/s. Mas para uma figura pública expressar a sua opinião, deveria fazê-lo com um pouco mais de zelo, não pelo bem estar do seu filho, mas pelo bem estar do mundo.

Deverei preocupar-me mais com um punhado de idiotas que ainda é contra judeus só porque sim (como esse tipo que supostamente tratou mal o filho do MD) ou preocupar-me com povos que vivem na miséria e sem futuro à vista?



http://www.aljazeera.com/topics/events/syria-broken-nation.html

http://www.aljazeera.com/indepth/interactive/2015/03/syria-displaced-worst-humanitarian-crisis-decades-150314161720009.html

http://www.aljazeera.com/indepth/features/2015/03/fallen-leaves-arab-spring-150310060732982.html

http://www.aljazeera.com/news/2015/03/lebanon-formal-refugee-camps-syrians-150310073219002.html

http://www.aljazeera.com/indepth/inpictures/2015/03/gaza-fishermen-life-attack-150310063651354.html

http://www.aljazeera.com/indepth/inpictures/2015/02/gaza-farmers-front-lines-perpetual-war-150223184305316.html

http://www.aljazeera.com/news/2015/02/palestinian-farmers-endure-constant-war-gaza-150224054058539.html

http://www.aljazeera.com/news/2015/02/legal-battles-horizon-ruins-gaza-150212072631357.html

http://www.aljazeera.com/indepth/interactive/2015/01/24-hours-gaza-150128124650715.html

http://www.aljazeera.com/news/2015/01/rights-group-israeli-bombing-gaza-homes-policy-150128042200506.html