Black Box Revelation (BBR) formaram-se em 2005 e deram-se a conhecer em 2006 quando ficaram em segundo lugar no Humo Rock Rally (concurso de bandas Belga)

(Note for English readers: You can read the interview in English HERE.)

Em 2007 lançaram o EP Kill for Peace (And Peace Will Die) e começaram a dar concertos regularmente na Bélgica. Em 2007 lançam também o seu primeiro LP chamado Set Your Head On Fire, uma apresentação de uma banda descomplexada, com Rock puro e divertido. I Think I Like You, Love, Love Is On My Mind e Never Alone, Always Together, foram alguns dos singles desse primeiro disco.

Os BBR fizeram digressões com várias bandas, como os dEUS, Iggy Pop, Eagles Of Death Metal, Raveonettes entre outros, tocando várias vezes em importantes festivais no Benelux como o Werchter, Pinkpop e Pukkelpop.

Em 2010 lançaram novo album Silver Threats demonstrando tendências e influências mais psicadélicas em músicas como Love Licks e mostrando a faceta Hard Rock em músicas como High On A Wire.

Em Fevereiro de 2011 lançaram um single editado em forma de Vinil vermelho, que ao invés de ser redondo, é um coração. O single era Lust Or Love, música que não consta em nenhum dos discos da banda.

Rattle My Heart foi lançada em Junho de 2011 e foi o single de avanço do seu mais recente álbum My Perception que foi editado em Setembro de 2011. Um álbum muito consistente (talvez o mais consistente dos três) com muitas metamorfoses ambientais ao longo do disco, que prometem prender qualquer um.

Resta dizer que Jan Paternoster é o guitarrista e vocalista e compõe todas as músicas e Dries Van Dijck é o baterista. Sim, são só dois, contudo e apesar de serem influenciados por bandas como White Stripes e Black Keys, os BBR desconstruiram a noção de que sendo apenas dois é preciso ter um som fino e pouco composto. As músicas dos BBR são bem construidas e qualquer um se convenceria de que são uma banda completa pelo resultado final. Os BBR são uma banda disposta a ultrapassar barreiras. Digressões com outras bandas pelos EUA têm-lhes valido boas reviews e reconhecimento junto do público americano, coisa rara para bandas europeias menores, principalmente fora do Reino Unido.

Assumindo-se como uma banda ao vivo os BBR não têm falta de energia e vontade de conquistar o mundo. E Jan ainda tem apenas 22 e Dries 20 anos. Fantástico não é?

Para mais informação sobre os BBR, acedam ao site oficial, e para verem os vídeos visitem a conta oficial do Youtube.

É com muito prazer e sem mais demoras que aqui no The Taste of Orange, temos o prazer de apresentar a primeira e exclusiva entrevista dos Black Box Revelation em português e para Portugal.

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Taste Of Orange: De acordo com os folhetos dos discos, o Jan escreve todas as canções, portanto como decorre o processo criativo quando os dois se juntam para construir, efectivamente, a música?
Jan Paternoster: Como já foi mencionado, sou eu quem cria as músicas novas nas versões demo. Eu gravo novas ideias, voz, guitarras, os riffs, seja o que for... em guitarra eléctrica ou dobro através de um gravador de cassetes de 4 faixas. Assim que tiver peças suficientes para construir a nossa parede de som, vou ter com o Dries e tento introduzir as novas músicas sem as mencionar. Os nossos ensaios consistem essencialmente em jams longos e improvisação. Pelo meio, atiro alguns sons novos ou ideias para lá e vemos que tipo de resultado conseguimos daí. Na maior parte das vezes, quando gostamos, acaba por ser um jam bastante prolongado. Roda então tudo à volta de sentimento e “magia”.


TO: Qual é a vossa inspiração principal quando escrevem músicas? Vem de livros, da vida real, ou de qualquer outra coisa?
J.P.: Eu sinto-me sempre inspirado por uma data de coisas enquanto viajo. Vê-se tantos sítios e conhece-se pessoas novas, e se compararmos a nossa vida à dos nossos amigos, é simplesmente tão diferente. O Amor e a Morte são as duas coisas mais fascinantes na vida. Sem vida não poderíamos sequer morrer ou fazer amor, haha.
O medo pode ser um factor influenciador quando se escreve também, essencialmente porque esses temas são todos tão fascinantes. Enquanto escrevíamos o nosso novo álbum My Perception fui influenciado por muita arte também, em particular pelo pintor nova-iorquino Jean-Michel Basquiat. Poderão ver os mesmos temas de volta, e eu adoro tentar traduzir quadros para palavras. Que é exactamente o oposto do que acontece com livros, onde o leitor tenta traduzir palavras para a fantasia e visuais.

TO: Dado que a maioria das bandas ouvidas de forma geral são do Reino Unido ou dos EUA, sentem alguma dificuldade em levar a vossa música para fora, sendo belgas? E porquê?
J.P.: Dado que o inglês não é a nossa íngua materna, haverá sempre uma pequena barreira linguística. Mas isto não tem de ser algo negativo, nós estamos orgulhosos da nossa música e já demos imensos concertos e fizémos digressões com públicos de língua inglesa. As reacções não poderiam ser melhores, os americanos gostaram tanto que nem conseguimos acreditar. Fizémos uma digressão nos Estados Unidos com os Beady Eye do Liam Gallagher, com os Eagles of Death Metal, e voltaremos lá no próximo mês com os Jane’s Addiction. Aposto que as reacções das pessoas são diferentes do que quando ouvem bandas americanas, eventualmente poderá dar-lhes uma sensação mais exótica, que me parece gostarem de uma maneira curiosa.

TO: Em 2008, fizeram uma digressão com os dEUS. Sentem-se influenciados por estas bandas dos anos 90, como os dEUS, Evil Superstars entre outras, que levaram a música Bélgica para toda a Europa?
Dries Van Dijck : Nós gostamos dos dEUS e dos Evil Superstars, mas não somos realmente influenciados por bandas belgas. Mas somos influenciados por algumas bandas dos anos 90, como os Nirvana. Estamos mesmo gratos aos dEUS por nos terem levado em digressão com eles, foi a nossa primeira a nível europeu. Em geral, somos mais influenciados por bandas dos anos 60 e 70 como os Rolling Stones ou o Neil Young.

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TO: O que é que vos fez começar uma banda sem qualquer instrumento para além da bateria e da guitarra?
D.V.D.: Antes dos Black Box Revelation tocávamos os dois numa banda de quatro elementos com o irmão mais novo do Jan e outro amigo. O género de música era pop-rock. Depois de uns tempos, o Jan escreveu uma música (Love In Your Head do nosso primeiro álbum Set Your Head On Fire) que não encaixava bem no tipo de música dessa banda, então tentámos essa música apenas nós os dois, e funcionou muito bem! Depois de escrever mais canções a puxar para o blues e alguns ensaios decidimos continuar os dois e começámos uma nova banda: os Black Box Revelation.

TO: Sentem alguma restrição na escrita e construção das canções devido às limitações de ter apenas dois instrumentos?
D.V.D.: De maneira alguma, sendo apenas nós os dois temos imensa liberdade! Quando estamos num jam não sentimos a falta de qualquer outro instrumento. Com os três amplificadores do Jan e diferentes pedais de guitarra, ele adiciona imensas dimensões aos solos, riffs e dá um poder extra em algumas partes. Eu tento sempre combinar um padrão groovy, com os meus diferentes “toms” em vez do básico prato de choques, tarola, bombo, de uma forma que pode substituir um baixo. Enquanto gravamos usamos alguns overdubs, como em Sealed With Thorns em que há uma pequena parte de piano que encaixa tão bem naquele momento. Os overdubs tornam algumas partes mais interessantes de certeza, mas não vais sentir falta deles quando nos vires ao vivo!

TO: Como é que se sentem a tocar ao vivo e o que é que gostam mais nisso?
D.V.D.: É fantástico tocar ao vivo! Concordamos que somos uma banda mais ao vivo, e que realmente convencemos as pessoas quando nos vêem em concertos, porque quando as pessoas ouvem os nossos álbuns, a maior parte não acredita que somos dois. O que realmente gostamos em tocar ao vivo é a interacção entre nós e o público, especialmente em sítios mais pequenos. Nós damos sempre toda a energia que temos, e quando vemos as pessoas a ficarem mais entusiasmadas e doidas, dá-nos ainda mais energia. Pequenos palcos, é sempre divertido! Em palcos maiores é bastante diferente. Nesse caso é mais a multidão enorme que nos dá adrenalina e imensa energia.

TO: Não se sentem bem sabendo que, olhando para trás, já têm três álbuns bem conseguidos? Especialmente sendo pessoas tão novas?
D.V.D.: Nunca pensamos bem nisso porque estamos sempre em digressão, a criar novas músicas, ou videoclipes... Mas às vezes, quando pensamos nisso, estamos orgulhosos daquilo que conseguimos alcançar ao longo dos últimos seis anos. A nossa ambição está sempre a crescer. Agora estamos temos estado em bastantes digressões pelos Estados Unidos, é fantástico que bandas como os Beady Eye e Jane’s Addiction nos queiram levar em digressão com eles. A nossa ambição: os Beady Eye e os Jane’s Addiction a abrirem para os BBR:)! (sic) Quando um álbum está acabado e estamos de volta a casa, ouvir o álbum é muito satisfatório. Nesse momento estamos realmente orgulhosos e felizes com o nosso novo álbum!

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TO: Vocês têm alguma influência na concepção dos vídeos ou simplesmente deixam os directores tratar de tudo? Porque os vídeos são muito fixes, sendo diferentes do habitual.
J.P.: Eu realmente gosto desta pergunta! Existe de facto uma grande evolução nos nossos vídeos. Os primeiros, desde há cinco anos atrás até um ou dois anos atrás, foram sempre realizados por diferentes directores, a maior parte deles por Joris Rabijns. Estamos sempre entusiasmados por trabalhar em vídeos novos, que se desenvolve sempre com um envolvimento próximo. Criamos a ideia com o director, dando-lhe espaço suficiente para trabalhar o vídeo da sua maneira pessoal. Depois de fazer uma dúzia de vídeos com directores quisemos tentar fazê-los nós próprios. Tivemos montes de tempo para ver os métodos de trabalho deles e de lhes pedir truques e dicas. Lust or Love foi o nosso primeiro vídeo realizado por nós. Fizémo-lo com a minha namorada e uns amigos. São fantásticas as possibilidades dadas por aquelas máquinas DSLR. Neste momento fazemos todos os nossos vídeos. Para o Rattle My Heart trabalhámos em conjunto com o designer de moda Walter Van Beirendonck, e para o My Perception tivemos uma cooperação com o FC Bergman, uma companhia de teatro flamengo. Quando escreves uma canção, tens certos visuais na tua cabeça e nós tentamos trazer esses visuais para os ouvintes nos nossos vídeos. Não há ninguém que consiga visuais tão próximos da nossa própria fantasia como nós próprios. Essa é provavelmente a razão que faz os nossos vídeos diferirem tanto dos vídeos habituais feitos por directores. Acho que olhamos para eles numa forma mais musical do que as pessoas não-músicas.

TO: Vão ser os Black Box Revelation para o resto da vida? Ou poderão vir a ter outros projectos?
D.V.D.: Para já são apenas os Black Box Revelation. Talvez um dia, quem sabe o que nos traz o futuro? Não há planos para já! Nós apenas adoramos o que estamos a fazer: música, a gravar álbuns, fazer digressões à volta do mundo. Estamos a trabalhar bastante para ter o nosso nome por aí. Gostamos de tocar com outros músicos mas nos BBR iremos ser sempre apenas nós os dois.

TO: Jan, o quê ou quem influenciou o teu modo de tocar guitarra e a escolha de guitarra?
J.P.: As minhas influências principais são cantores de blues como o Howlin’ Wolf, Muddy Waters, Johnny Winter etc. Ao lado dessas lendas do Mississipi, gosto realmente os primeiros tempos dos Stones e especialmente do Neil Young no seu álbum On The Beach. Acho que a razão de eu gostar de todos estes tipos é porque todos eles tocam as suas guitarras com tanta atitude. Não é sobre o solo mais impressionante, mas sobre a forma como eles põem a sua alma e frescura na música. A atitude é tudo!

E Dries, o quê ou quem é que influenciou a tua forma de tocar bateria?
D.V.D.: O John Bonham é a minha maior influência, a forma como ele controla a bateria, o groove dele, é fantástico. O Dave Grohl também me inspira. Quando eu era novo, estava sempre a ver vídeos em que ele bate na bateria com tanta força. Creio que isso me levou a fazer o mesmo. O baterista dos Yeah Yeah Yeahs também me inspira. E ele usa imenso os seus “toms”, criou a sua própria sonoridade.

TO: Gosta de combinar diferentes guitarras, diferentes amplificadores e efeitos em procura de sons diferentes ou basicamente é sempre o mesmo?
J.P.: Basicamente uso um setup específico. Um conjunto de três amplificadores de guitarra que vão por três canais de efeitos diferentes na minha pedaleira, todos controlados com o pé ou pela guitarra... Devo dizer que este setup tem mudado bastante ao longo dos anos. Sempre procurando um som melhor e mais preenchido. Evoluiu de certa forma com a minha forma de tocar guitarra e de dar concertos. A experiência enriqueceu o meu conhecimento em efeitos e amplificadores. Não que seja um “guitar geek”, de forma alguma. Uma vez que encontro o som certo, paro de procurar. Coisa engraçada, porque continuam a aparecer novos pedais e novos amplificadores. Nós já tocamos juntos com tantas bandas que há sempre algo que atrai a tua atenção, como um novo som ou pedal... Nos primeiros tempos dos BBR, apenas tocava com uma versão chinesa do Vox AC30, nada mais, sem pedal nenhum, apenas ligado directamente da guitarra ao amplificador. Hoje em dia uso amplificadores Selmer Zodiac Thirty dos anos 60 e dois Dr.Z's ligados a uma pedaleira com uma dúzia de pedais. É engraçado como as coisas evoluem, não é? Falando de guitarras, eu ADORO (sic) guitarras, estou sempre pronto para uma nova... Essencialmente toco guitarras do James Trussart, um luthier francês que vive em Los Angeles e é um bom amigo meu. Na verdade ele está a construir uma guitarra doida nova para mim, e eu mal posso esperar para tocar.

TO: Ter uma banda e alguns álbuns lançados foi um sonho há muito esperado tornado realidade ou algo inesperado e repentino?
D.V.D.: Para mim, tocar numa banda e dar concertos foi um sonho tornado realidade, absolutamente. Comecei a tocar bateria quando tinha sete anos, e desde esse momento eu soube o que queria fazer para o resto da minha vida.Começámos a tocar juntos quando tínhamos 12 e 14 anos. Desde o início, ir em digressão era um sonho que tínhamos. Dois anos atrás fomos cabeça de cartaz no Rock Werchter, que é o maior festival da Bélgica. Sete anos atrás não conseguiríamos sequer imaginar isto.

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TO: Como é que tiveram a ideia para a Lust or Love, enquanto canção, vídeo e vinil em forma de coração? Porque é um lançamento bastante incomum.
J.P.: Estou realmente contente por este lançamento ter chamado a vossa atenção. A canção foi gravada durante as sessões do Silver Threats, mas não a queríamos pôr no vídeo por ter um ambiente tão diferente. Pensámos que o tema desta canção seria óptimo para a lançar no dia de S. Valentim. Não gostarias de receber um presente como este pelo Dia dos Namorados da tua namorada? Foi por isso que criámos o vinil em forma de coração. É super fixe, não é? Foi a oportunidade perfeita para tentarmos filmar o vídeo nós próprios. Uma produção sem orçamento que é um do meus vídeos dos BBR preferidos. A ideia da barba azul no vídeo veio da minha namorada, como referência ao conto de fadas do Barba Azul. Que confusão para pintar a barba de azul, hahaha. Divertimo-nos imenso a filmar o vídeo, mas estava imenso frio. Lembro-me que foi a noite mais fria do ano... cerca de -15ºC. Mas bem, precisávamos da paisagem da neve!

TO: Planeiam tocar em Portugal um dia?
J.P.: Nós ADORARÍAMOS (sic) tocar em Portugal este Verão. Temos andado em digressão pela Europa já há cinco anos, tocámos óptimos concertos em quase todos os países europeus excepto Portugal. Tivemos concertos muito fixes em Espanha com os Raveonettes. Não conseguimos esperar para tocar nalguns festivais portugueses. Seria muito entusiasmante. Acho que o público portugues iria gostar imenso da nossa música, especialmente ao vivo.


O Taste of Orange gostaria de agradecer aos Black Box Revelation pela gentileza de nos terem aceite fazer esta entrevista. Agradecemos ainda ao Christen por nos ter feito o contacto aos BBR e pelas fotos. Obrigado!


Photobucket

O exemplar da edição limitada do vinil Lust or Love oferecida ao João X pela sua namorada, referido na entrevista :)